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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Entrevista com o jornalista e professor Carlos Nobre

Olá,
O post de hoje é uma das minhas primeiras entrevistas, que fiz essa semana com o meu professor de técnicas de reportagem da PUC-Rio, Carlos Nobre Cruz.




Nascido no Sergipe,  escolheu o Rio  por ter ampla cultura e contato com muita gente. Adora o aspecto de cidade cosmopolita. Foi estudante de jornalismo na PUC-Rio. Nunca pensou em parar de ser jornalista. Saiu do veículo tradicional e foi buscar outros campos, jornais segmentados, sites na internet , assessoria de imprensa e as  aulas na PUC. Trabalhou duas vezes no Jornal do Brasil e passou pelo Jornal O Dia. Nessa entrevista ele vai falar um pouco sobre como era o antigo jornalismo, as mudanças que estão acontecendo com a era digital e o futuro do jornal impresso. 



1) Como surgiu a sua vontade de ser jornalista?


CN - Foi aquela coisa clássica. Eu já escrevia, fazia poesias na adolescência e vi que tinha muita tendência para a comunicação. Mas eu fiz 1 ano de engenharia e não me adaptei. Deixei o curso e fui fazer vestibular para jornalismo. Passei e gostei, me adaptei e percebi que minha força estava em contar e escrever histórias.

2) Você começou a trabalhar em um momento em que as tecnologias ainda não eram tão desenvolvidas como hoje. Como era trabalhar nas redações sem a internet?

CN- Era um pouco difícil porque você tinha que ligar por telefone, tinha a máquina de datilografia... O texto passava por uma revisão de mão, era mão a mão, muito artesanal naquela época, em comparação com o que é hoje. Agora temos o corretor de português e muitas outras coisas. Era uma dificuldade mas também era gostoso porque dava um ar de mistério, aquela coisa do suor que você colocou, um ar de antigo. Por outro lado tinha isso como força e hoje, comparado com o que fazíamos, o tempo que  era gasto era muito grande, nem tem comparação com a rapidez de hoje.

3) Como era ser jornalista do Jornal do Brasil?

CN - O Jornal do Brasil era um jornal muito clássico, muito envolvente e muito famoso. Quem trabalhava lá  gostava do jornal porque a mídia era grande, provocava debates, tinha uma posição central. Ele valorizava textos bem escritos e reportagens  humanas muito boas. Então ele deixou uma marca em quem trabalhou lá, tanto que até hoje tem associação de ex-jornalistas do JB e grupos de discussão. O JB deixou uma grande marca no jornalismo brasileiro. Até hoje é o jornal que mais ganhou prêmios Esso. Era um jornal que estimulava bastante a investigação. A maioria dos grandes jornalistas brasileiros trabalharam lá.
4) Depois que o jornal acabou e ficou só com a versão na Web ele perdeu a força? Você acha que ainda existe possibilidade de voltar a ser impresso?

CN- Perdeu força, o jornal não é mais o mesmo, inclusive não tem a proposta editorial igual a antiga. Não tem dinheiro para fazer investimento, isso fez com que ele perdesse a força de antigamente. A proposta editorial é mais média. Um jornal importante se faz com grandes quadros, grandes pessoas que trabalhem ali, isso estimula bastante a opinião pública. Hoje não dá mais. É um pouco difícil ele voltar agora, já teve a marca vendida e as pessoas que estão com ela não estão  interessadas em voltar a ser como antigamente. E também para voltar a ser como antigamente tem que ter muito investimento e dinheiro.
5) Qual o maior desafio da apuração?
CN- É saber enfrentar dificuldades e não temer que vai perder alguma coisa. Encontrou um obstáculo, não tema, vai e não tema o fracasso. Todo mundo teme o fracasso, então acho que esse é o grande desafio da apuração.
6) Como você avalia esses casos de hostilidades contra os jornalistas nas manifestações?
CN- A imprensa jornalística não percebeu as mudanças que estão acontecendo na sociedade, isto é, continuaram a dar, de certo ponto, notícias muito polêmicas e divergentes do real. Não perceberam esse público novo, jovem e atento. Quando a imprensa percebeu, havia uma antipatia pelas coberturas jornalísticas e até ocorreram fatos violentíssimos como a queima de carros de reportagem. Então foi uma reação que estava oculta, ninguém percebia o grau, foi uma explosão e revolta popular.
7) Qual entrevista ficou marcada na sua memória?
CN- Foram muitas. Eu me lembro que fiz uma, com um cientista político, que falei pelo telefone, já tarde e ele me contou várias coisas que iam acontecer. Previu e aconteceram nas eleição. Não me esqueço disso, que foi uma entrevista com dificuldade e o que ele falou aconteceu, os candidatos ganharam, mudou a coligação, isso foi muito interessante. Foi no ano de 1992 e eu estava no Jornal O Dia na época.
8) Quais as principais diferenças entre a reportagem no rádio, na TV e no jornal impresso?
CN- O impresso precisa apurar bastante porque a linguagem na escrita exige muita informação. Já  na TV, a força da imagem é muito poderosa, as pessoas têm leituras rápidas e são envolvidas pela imagem. Então não se pode ter um texto muito amplo na TV, ela precisa da imagem. A diferença é que na TV você trabalha mais a imagem e menos o texto. No rádio,o texto e a voz também, mas ele é instantâneo não pode ser ultra grande o debate senão cansa o ouvinte. Todas as três tem caminhos diferentes, não há superioridade mas casa um busca um caminho para se comunicar com o leitor, o ouvinte ou o telespectador. 
9) Na sua opinião, qual é o futuro do jornal impresso?

CN- Dizem que o jornal impresso vai acabar, eu não acredito. Acho que ele vai ficar uma coisa muito específica e vai sair semanalmente ou mensalmente sendo um produto muito caro e raro, difícil de ser feito. Ele vai sumindo, se tornando raridade e vai ser apreciado porque abrir o papel vai ser um artigo de luxo. Mas não acho que ele vai acabar, só não vai sair todos os dias como sai agora. Vai ser para as pessoas consultarem e não tem em ampla escala. Você faz um blog rapidinho, já o jornal não, tem que ir para a gráfica, imprimir ... Esses processos de produção mecânicos é que deixam o jornal caro.
11) Qual é a principal pauta do jornalismo nos dias atuais?

CN- A redemocratização através das ruas. As ruas deixaram grandes lições que os jornais devem repautar, isto é, ver se as instituições estão cumprindo tudo que está sendo pedido, se as reivindicações estão sendo atendidas, então acho que a grande pauta hoje é isso. O jornal tem o problema clássico de tender a ser mais empresa do que um meio de opinião, divulgação e prestação de serviços para a sociedade. Chega uma hora que o jornal passa a servir aos seus interesses próprios.
12) Como você avalia a situação do mercado de trabalho no jornalismo impresso?
CN- Eu acredito que ele esteja mais frágil hoje, não tem mais tanto emprego como tinha antes, até por conta das novas tecnologias. E também é uma mudança do emprego que está mais na assessoria de imprensa, mais na internet e em sites que abrigam diversos blogs jornalísticos de sucesso.  Portanto, estão abrindo novos mercados em outras áreas que não é o impresso clássico. O impresso está se modificando também, ele vai ser um veículo bem enxuto e raro.
13) Você acha que é possível ser jornalista sem dominar as técnicas e sem a bagagem que a faculdade traz?

CN- Impossível, você tem que aprender a discutir, técnicas, métodos de trabalhos jornalísticos senão acontece como os meninos da imprensa ninja. Eles faziam a cobertura instantânea mas não era a cobertura pensada e por isso tiveram muitos erros, muitas gafes . Se eles soubessem  algumas técnicas seria um baile fantástico, eles mostrariam outras visões na cobertura. É necessário ter essa visão,o real é cada vez mais complexo e instigante e merece ter técnicas de abordagens mais seguras.


Beijos,


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